AS MULHERES E A VIDA PÓS-MODERNA
A história das mulheres pelo mundo é perpassada por inúmeras lutas, transformações e desafios que se modificam de acordo com o contexto histórico-cultural. Apesar da constante metamorfose na qual se inserem as mulheres, é possível notar que muitos são os esforços da sociedade, em diferentes épocas, de determinar aquilo que seria um “papel feminino”, o que revela as exigências feitas às mulheres bem como a tentativa de enquadrá-las em determinados aspectos sociais.
Durante muito tempo, a imagem das mulheres esteve relacionada à devoção e ao sacrifício direcionado à família e aos filhos, sendo tais fatores considerados como inerentes à natureza feminina, o que fez com que as mulheres fossem associadas, por séculos, aos ambientes domésticos. Diante de tal reconhecimento restrito ao lar, houve uma negação das capacidades socialmente valorizadas na esfera pública, o que dificultou o acesso das mulheres ao mercado de trabalho, afastando-as do poder e dos negócios.
A partir das décadas de 60 e 70, tal cenário começou a sofrer modificações, sobretudo através dos movimentos feministas, de modo que os papéis feminino e masculino em nossa sociedade passaram a ser colocados em questão. Com isso, foi possível o entendimento de que as concepções anteriores foram socialmente construídas, não havendo, portanto, uma determinação puramente biológica no que diz respeito às “funções” do homem e da mulher.
No entanto, apesar de tais avanços e do aumento da inserção da mulher no mercado de trabalho e em outros espaços anteriormente ocupados somente por homens, como a política, há ainda, a permanência de valores patriarcais, que continuam a reproduzir desigualdades e uma série de exigências em relação à mulher. As cobranças relacionadas à figura feminina ainda giram em torno da maternidade, da família, mas também há a expectativa de que trabalhem fora e se mantenham dentro dos padrões de beleza – um ideal de perfeição impossível de ser sustentado.
O contexto de uma pandemia, ao qual estamos inseridos atualmente bem como as características da sociedade pós-moderna, tornam o momento ainda mais difícil para as mulheres, pois tende a exacerbar o acúmulo de tarefas já vivenciado. O filósofo sul-coreano Byung Chul descreve a época contemporânea como “a sociedade do cansaço”, que é caracterizada por imperativos de produtividade, fazendo com que as pessoas estejam, a todo momento, em busca de uma máxima de desempenho, o que conduz, inevitavelmente, ao esgotamento.
Embora tais conjunturas sejam típicas da era pós-moderna, as mulheres estão mais suscetíveis aos seus efeitos em razão da multiplicidade de tarefas que costumam acumular. A conquista de outros espaços públicos pelas mulheres, não fez com que, na maioria dos lares, as tarefas domésticas deixassem de ser exercidas por elas. Por isso, hoje em dia, a mulher é vista, de certa forma, em caráter performático, tendo que se desdobrar em múltiplas versões, permanecendo ainda como alvo de críticas da sociedade quando não atende aos ideais impostos.
Conforme vimos, a realidade social é constantemente transformada pelos acontecimentos de cada época. Como então será a vida das mulheres pós-pandemia? A antropóloga Débora Diniz, professora da faculdade de Direito da Universidade de Brasília, vislumbra um cenário em que as temáticas relacionadas à sobrevivência, interdependência, cuidado, proteção social e saúde estarão em evidência, já que a cada dia, nos deparamos com a impossibilidade da autossuficiência.